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Mostrando postagens de abril, 2017

Liturgia do Silêncio

Li no Hypeness que os "estudos sugerem que a exposição ao silêncio poderia trazer benefícios à saúde, diminuindo os níveis de estresse e aumentando a sensação de relaxamento. Uma pesquisa de 2006 concluiu inclusive que o silêncio seria mais relaxante do que uma “música relaxante”. Mesmo assim, os estudos sobre o assunto são preliminares e, embora ainda não seja definitivo afirmar que o silêncio faça “bem”, já se sabe que ele ao menos é mais vantajoso em termos de saúde do que a exposição prolongada ao barulho." Imediatamente me lembrei do saudoso Rubem Alves, que fazia belas reflexões sobre a dádiva do silêncio. Uma vez, transcrevi aqui um texto dele publicado no jornal . Agora recorro a este singelo texto de seu livro Pensamentos que penso quando não estou pensando (Campinas: Papirus, 2007. p. 13-16):   Liturgia do Silêncio Rubem Alves Muitos anos atrás, passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grands Champs. Eu e algumas

Corra ao sepulcro!

  É assim que o evangelista S. Lucas narra o acontecimento fundamental da fé cristã: “No primeiro dia da semana, de manhã bem cedo, as mulheres tomaram as especiarias aromáticas que haviam preparado e foram ao sepulcro. Encontraram removida a pedra do sepulcro, mas, quando entraram, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. Ficaram perplexas, sem saber o que fazer. De repente dois homens com roupas que brilhavam como a luz do sol colocaram-se ao lado delas. Amedrontadas, as mulheres baixaram o rosto para o chão, e os homens lhes disseram: “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se do que ele lhes disse, quando ainda estava com vocês na Galileia: ‘É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia’ “. Então se lembraram das suas palavras. Quando voltaram do sepulcro, elas contaram todas estas coisas aos Onze e a todos os outros.

Domingo de Ramos | O contraste dos triunfos

A imagem superior é um detalhe da pintura de Antoine Charles Horace Vernet (1758-1836) ilustrando o desfile de triunfo do general romano Lúcio Emílio Paulo sobre um carro de ouro. Abaixo, a pintura de Peter Paul Rubens (1577-1640) da Entrada de Cristo em Jerusalém.     Triunfo era uma procissão cerimonial e comemorativa na qual os romanos celebravam suas vitórias e conquistas. Nas imagens: "Um Triunfo Romano" (1905), pintura de Andrew Carrick Gow (1848–1920) e a "Entrada de Jesus em Jerusalém no Domingo de Ramos", do artista digital Craig Mullins (nascido em 1964).   O contraste dos triunfos nas pinturas da Entrada de Alexandre na Babilônia ou Triunfo de Alexandre (1665), por Charles Le Brun (1619–1690) e da Entrada de Cristo em Jerusalém (c. 1800), por Félix Louis Leullier (1811-1882): Arcos do triunfo foram erguidos pelos imperadores romanos para comemorar suas vitórias. Os primeiros arcos triunfais na República Romana comemoravam a vi

A maioria nem sempre está com a razão

O Prof. Nilson José Machado, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, diz que “a sensação de conforto resultante de estarmos de acordo com a maioria é simetricamente comparável ao desconforto associado à defesa de posições minoritárias” e que “a influência da maioria nas decisões pessoais parece muito mais emocional do que lógica” ( Educação: cidadania, projetos e valores , pág. 143). Nestes tempos de incertezas, discórdias e extremismo nas esferas políticas e sociais, quantas vezes nos deixamos conduzir por uma multidão passional sem a devida reflexão? A Semana Santa, que tem seu ponto alto na celebração da Páscoa de nosso Senhor, tem início no Domingo de Ramos, recordando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Uma multidão recebeu Jesus como um rei, aclamando “Hosana ao Filho de Davi!” “Bendito é o que vem em nome do Senhor!” “Hosana nas alturas”. A multidão que acolheu Jesus com grande festividade o condenou à morte no fim de semana. A psicologia das massas pode

Morte distante

A propósito do Quinto Domingo na Quaresma, amanhã, - quando muitas igrejas irão refletir sobre a ressurreição de Lázaro, conforme o evangelho de S. João, - urge refletirmos também sobre o medo mais profundo de lidarmos com aquilo que mais nos assusta, e ao mesmo tempo, mais nos humaniza, mais nos torna solidários ao gênero humano, como o próprio Jesus que, diante da morte, chorou (quer sentimento mais humano?). O texto abaixo é a introdução do livro " Morte: Sobre a arte de viver ", de Roman Krznaric (Zahar, 2016): "A morte está mais distante da mente ocidental, hoje, do que em qualquer outro período da história. Isso se deve, em parte, ao impressionante aumento da longevidade em todas as nações industrializadas ao longo do século XX. Se você tivesse nascido na Inglaterra nos anos 1830, provavelmente teria vivido, em média, até os 38 anos; em apenas 150 anos, a expectativa de vida dobrou. Nos Estados Unidos, uma mulher de meia-idade nos anos 1950 tinha 10