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Mostrando postagens de fevereiro, 2017

O sentido da vida está na morte

Na década de 80 e 90 o punk rock fazia a cabeça da molecada que queria contrapor-se aos problemas sociais de uma forma rebelde e revolucionária. Uma banda paulistana chamada Olho Seco vociferava assim o niilismo típico de um movimento que afirmava a morte da esperança e do sentido da vida: “Esperança explodiu em mais de mil pedaços. Meu futuro se foi com ela, me deixou em frangalhos. Me sepultem, me enterrem. Estou morto! Morto!” Muitas vezes é assim que nos sentimos: mortos! Não uma morte real, mas igualmente paralisante, quando a vida perde o sentido e a esperança e os sonhos se desfazem como fumaça. Então, nos assemelhamos a “mortos-vivos”, cobertos pela sombria presença de um vazio existencial. Certo dia, Jesus encarou a cruel realidade da morte de seu amigo Lázaro, que estava na sepultura há quatro dias e já cheirava mal. A humanidade vivencia o estado de Lázaro, morta e cheirando mal, podre em seu interior. Isto fica evidente no sofrimento, na dor, na tristeza, no ódio, enfim,

Oremos pelos que nos maltratam

Sermão do Monte, por Gisele Bauche No célebre Sermão da Montanha, Jesus disse: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” (Mt 5.43-44). Tarefas árduas para tempos difíceis! Em Os irmãos Karamazov , romance de Dostoievski, um dos personagens questiona:   “Jamais pude compreender como se pode amar seu próximo. É exatamente aos nossos próximos que é impossível amar, a meu ver só os longínquos se ama. Para que se possa amar uma pessoa é preciso que esta se esconda porque, mal essa pessoa mostra a cara, o amor desaparece.” O que dizer dos inimigos então? As palavras de Jesus são tão contrárias ao espírito humano, cujas ações são quase sempre baseadas no interesse próprio e na exploração de seus semelhantes. O ser humano dominado por uma natureza pecadora, é desejoso de amor mas não consegue ter verdadeiro

Valentine's Day

Sobre a data de hoje no livro Amor: Sobre a arte de viver (Zahar, 2015), do historiador da cultura Roman Krznaric "O homem imortalizado como são Valentim ficaria chocado ao descobrir que se tornou o santo padroeiro do amor romântico. Sua história é obscura, mas parece que foi um padre que viveu perto de Roma, no século III, e foi executado por suas crenças cristãs. Realizou-se pela primeira vez uma festa em seu nome em 496, e durante a maior parte do milênio seguinte ele foi venerado pelo poder de curar doentes e aleijados. No fim da Idade Média, sua fama era de ser o santo padroeiro dos epilépticos, especialmente na Alemanha e na Europa Central, onde obras de arte do período mostram-no curando crianças de seus ataques convulsivos. Ele nada teve a ver com o amor até 1382, quando Chaucer criou um poema descrevendo o dia de são Valentim, celebrado todo mês de fevereiro, como uma ocasião em que as aves – e as pessoas – deveriam escolher seus companheiros. Desse momento em dian

Tempestade de hostilidade e ódio

Eneida é um poema épico escrito por Virgílio, que narra a origem de Roma através das façanhas do herói troiano Eneias. Havendo escapado da destruição de Troia pelos gregos, Eneias tem nas suas mãos a missão de encontrar a “nova Troia”, a futura e gloriosa Roma. A lenda conta que na viagem, os navios são atingidos por uma violenta tempestade provocada por Éolo, o deus do vento (daí a palavra eólico). O poema de Virgílio em português, traduzido por Carlos Alberto Nunes, narra como Eneias tem sua vida preservada: Como por vezes ocorre em cidades de muitos vizinhos, quando rebenta revolta e dispara o povinho sem brio, já voam pedras e fachos, as armas a luta improvisa; mas, se de súbito surge um varão de aparência tranquila e comprovado valor, todos calam e atentos o escutam; com seu discurso as vontades compõe, o furor dulcificada: mesma forma cessou o barulho das vagas. Netuno, o deus do mar, apiedou-se de Eneias e surge para acalmar a tempestade. Ao comparar a ação apaziguadora de

A lição do rei Canuto

Há 103 anos atrás o então senador Rui Barbosa ocupava a tribuna do Senado para um desabafo que até pouco tempo também estava preso na garganta de muitos cidadãos brasileiros, devido “a falta de penalidade aos criminosos confessos” e “a falta de punição quando se aponta um crime que envolva um nome poderoso”. Mais de cem anos de República se passaram com muitos políticos agindo como se fossem donos do poder, sem temer o risco de se haver com a justiça terrena e divina. Mas os recentes acontecimentos parecem indicar que, finalmente, as coisas estão mudando. Tempos atrás, dificilmente se imaginaria que agentes políticos e empresários poderosos seriam réus na Justiça, tampouco presos ou condenados. A sabedoria do rei Salomão é inexorável: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Provérbios 16.18). Muitos estão indo do apogeu à ruína, dos palacetes às celas sem regalias. O escritor Zuenir Ventura, em sua coluna no O Globo (01.02.2017), retrata com espanto