As notícias da mais nova operação desencadeada pela Polícia Federal causaram um impacto estrondoso, trazendo à tona o escândalo da comercialização de carne podre, adulterada ou contaminada com bactérias. Todo esse esquema assustador era mantido com propinas pagas àqueles que legislam e fiscalizam.
A partir daí vieram uma enxurrada de outras notícias desagradáveis: as autoridades de vigilância sanitária já encontraram paçoca com substâncias tóxica, arroz com excremento de roedores, canela em pó e extrato de tomate com pelos de roedor. Impossível não ficar com a confiança abalada diante destas revelações.
A confiança sempre foi um elemento facilitador das trocas e do comércio, em que as partes envolvidas buscam benefício mútuo. A confiança e boa-fé requer honestidade e sinceridade na compra e venda de um produto de qualidade por um preço justo. No entanto, em cada época e lugar houveram pessoas gananciosas que enganaram, trapacearam e roubaram para ganhar dinheiro fácil à custa da boa-fé e confiança alheia.
Oito séculos antes de Cristo, o profeta Amós declarava que o Deus justo estava com raiva daqueles que comercializavam “o trigo, diminuindo a medida, aumentando o preço, enganando com balanças desonestas e comprando o pobre com prata e o necessitado por um par de sandálias, vendendo até palha com o trigo” (Am 8.5-6).
Mesmo com tanto progresso humano, a ganância continua tão típica e tão endêmica também em nosso tempo. De acordo com a Polícia Federal, a prioridade das empresas frigoríficas era o “o capitalismo, o mercado, não a saúde pública”. As autoridades estão lamentando o prejuízo de valores “estratosféricos” e concentrando esforços em cuidar do mercado.
Mas é bom lembrar que fraca é a nossa carne, que nossas mentiras, fraudes e ganâncias cotidianas, por mais “pequenas” e “insignificantes” que as consideremos, também fazem mal às outras pessoas, criadas a imagem e semelhança de Deus. É uma ofensa a Deus qualquer mal que fazemos ao nosso próximo. No tempo do profeta, Deus disse que nunca iria esquecer o que eles fizeram de mal e perverso com seus semelhantes e por isso iriam sofrer consequências.
A mensagem cristã neste tempo de Quaresma lembra que, se por um lado podemos sofrer as consequências terrenas e eternas do mal que praticamos, por outro lado somos perdoados pelo Cristo que nos ama e apaga o mal que fizemos, mas não a memória que Deus. O apóstolo João escreve assim: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2.1). Para curar em cada um de nós a moléstia que arrastou a humanidade para a vida indigna e gananciosa, Cristo nos é oferecido como o remédio de Deus. Esta é uma boa notícia para todos sobre os quais recai o peso da mentira e da ganância.
A palavra mais evocada na Quaresma é arrependimento. Se nossa carne fraca experimentar uma transformação genuína (não uma maquiagem) podemos gostar das pessoas de maneira real e concreta e não pelos lucros que elas podem render.
Publicado no Jornal O Guarani, nº 2500 – 24 a 30/03/2017 (Itararé, SP)
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