Há 103 anos atrás o então senador Rui Barbosa ocupava a tribuna do Senado para um desabafo que até pouco tempo também estava preso na garganta de muitos cidadãos brasileiros, devido “a falta de penalidade aos criminosos confessos” e “a falta de punição quando se aponta um crime que envolva um nome poderoso”. Mais de cem anos de República se passaram com muitos políticos agindo como se fossem donos do poder, sem temer o risco de se haver com a justiça terrena e divina. Mas os recentes acontecimentos parecem indicar que, finalmente, as coisas estão mudando.
Tempos atrás, dificilmente se imaginaria que agentes políticos e empresários poderosos seriam réus na Justiça, tampouco presos ou condenados. A sabedoria do rei Salomão é inexorável: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Provérbios 16.18). Muitos estão indo do apogeu à ruína, dos palacetes às celas sem regalias. O escritor Zuenir Ventura, em sua coluna no O Globo (01.02.2017), retrata com espanto a ambição e megalomania de um dos políticos presos: “Os que o conhecem desde pequeno não entendem esse desvio de conduta de um jovem político de sucesso... Que mecanismo psicológico — que compulsão, que impulso insaciável — pode fazer alguém acumular e querer cada vez mais?”
A história de um rei do século 11 ensina uma grande licão àqueles que almejam o poder. O rei Canuto, o Grande, foi um monarca poderoso no seu tempo e senhor do imenso Império do Mar do Norte, que abrangia toda a Inglaterra, Dinamarca, Noruega e partes da atual Suécia. Tempos depois de sua morte, o historiador inglês Henrique de Huntingdon escreveria que o rei Canuto estava no apogeu de seu reinado quando pediu que seu trono fosse colocado na praia e, ao começar a subir a maré, ordenou ao oceano que não penetrasse em seus domínios. Mas a maré continuava a subir, como de costume, sem qualquer reverência por sua realeza. As águas já cobriam suas canelas, quando o rei se afastou, dizendo: “Que todos saibam que o poder dos reis é vão e inútil, que não existe ninguém digno do nome de rei, a não ser Aquele a quem o céu, a terra e o mar obedecem por leis eternas”. Desde então o rei Canuto nunca mais colocou a coroa sobre sua cabeça, dedicando-a ao Rei Todo-poderoso.
Os historiadores consideram Canuto o rei mais eficaz da história anglo-saxônica, por suas ações benevolentes e conciliadoras que trouxeram prosperidade e estabilidade numa era conturbada. Apesar de sua autoridade incontestável, Canuto demonstrou-se um rei devoto e humilde, conduzindo-se de maneira graciosa e magnífica nestes quesitos. Tinha consciência dos limites de seu poder e de seus deveres como governante do povo. A humildade proporciona o contentamento de viver uma vida que, mesmo sendo curta, não será pequena na Terra e ainda será eterna no Céu. É a proposta de Jesus: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5.3).
Publicado no Jornal O Guarani, nº 2494 - 03 a 09/02/2017 (Itararé, SP)
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