Entre outros trabalhos já realizados, Finkelstein dirige escações em Megiddo, juntamente com o Prof. David Ussishkin, e é autor, com seu colega americano, o historiador e arqueólogo Neil Asher Silberman, do livro “The Bible Unearthed: Archaeology’s New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts”, traduzido para o português com o título "A Bíblia Não Tinha Razão" (A Girafa, 2003). Uma resenha do livro pode ser apreciada no Observatório Bíblico.
Finkelstein é considerado por muitos um arqueólogo minimalista¹, rótulo que ele próprio parece rejeitar. O fato é que no livro em questão, os autores dizem o seguinte - na tradução espanhola que tive acesso (La Biblia desenterrada, Siglo XXI de España Editores, 2006) - em reposta à pergunta "Davi e Salomão existiram?":
Esta pregunta planteada de manera tan brusca puede sonar deliberadamente provocadora. David y Salomón son figuras religiosas tan fundamentales tanto para el judaísmo como para el cristianismo que las recientes afirmaciones de biblistas críticos radicales de que la historicidad del rey David «no es mayor que la del rey Arturo» han sido acogidas con escándalo y desdén en muchos círculos religiosos y académicos. Algunos historiadores de la Biblia, como Thomas Thompson y Niels Peter Lemche, de la Universidad de Copenhague, y Philip Davies, de la Universidad de Sheffield. tachados de «minimalistas bíblicos» por sus detractores, han sostenido que David y Salomón, la monarquía unitaria de Israel y, en realidad, toda la descripción bíblica de la historia israelita no son más que construcciones ideológicas hábilmente elaboradas, producidas en Jerusalén por círculos sacerdotales en tiempos posteriores al exilio o, incluso, en época helenística.
Pero los minimalistas tienen algunos puntos a su favor desde un punto de vista puramente literario y arqueológico. Una lectura rigurosa de la descripción bíblica de la época de Salomón da a entender claramente que se trata del retrato de un pasado idealizado, de una Edad de Oro gloriosa. Las informaciones sobre la fabulosa riqueza de Salomón (quien consiguió que «en Jerusalén la plata fuera tan corriente como las piedras», según 1 Reyes 10:27) y su harén legendario (que, según 1 Reyes 11:3, albergaba a setecientas esposas y princesas y trescientas concubinas) son detalles demasiado exagerados para ser ciertos. Además, a pesar de la riqueza y el poder que según se nos dice poseían, ni David ni Salomón se mencionan siquiera en un solo texto conocido de Egipto o Mesopotamia. Y los testimonios arqueológicos de Jerusalén que pudieran avalar los famosos proyectos constructivos de Salomón son inexistentes. Excavaciones realizadas en el siglo XIX y los primeros años del XX en torno a la montaña del Templo, en esa ciudad, no lograron identificar ni un solo rastro del fabuloso santuario o el complejo palaciego salomónico. Y, aunque ciertos estratos y estructuras de yacimientos de otras comarcas del país se han vinculado de hecho a la época de la monarquía unificada, su datación no es ni mucho menos clara, según veremos. (p. 144)
Por otro lado, se han acopiado poderosos argumentos para impugnar algunas de las objeciones de los minimalistas. Muchos estudiosos sostienen que los restos del periodo salomónico de Jerusalén se han perdido porque fueron completamente eliminados por las masivas construcciones herodianas levantadas sobre la montaña del Templo en la primera época romana. Además, la ausencia de referencias externas a David y Salomón en inscripciones antiguas sería totalmente comprensible, pues la época en que se cree que reinaron (c. 1005-c. 930 a. de C.) fue un periodo en que los grandes imperios de Egipto y Mesopotamia se hallaban en decadencia. No es de extrañar, por tanto, que en los textos contemporáneos egipcios y mesopotámicos, más bien escasos, no haya referencias a David ni a Salomón. (p. 145)
Os autores concluem: "La cuestión que debemos afrontar no es va, por tanto, la de la mera existencia de David y Salomón. Lo que hemos de ver ahora es si la descripción global de las grandes victorias militares y los magnos proyectos constructivos de Salomón concuerda con los testimonios arqueológicos." (p. 146)
Como vemos, Finkelstein adota uma "cronologia baixa" quando sugere, entre outras coisas, que os estratos em muitos sítios arqueológicos no Oriente Médio originalmente datados como sendo do séc. X a.C., deveriam ser "baixados" para o século IX a.C. Este ajuste cronológico significaria um descompasso em relação à validade histórica da Bíblia e coloca em xeque a idéia de uma monarquia exuberante na época de Davi e Salomão. Estas questões estão no cerne do debate minimalista / maximalista na arqueologia sírio-palestina. A esse respeito Finkelstein e Silberman escrevem em artigo publicado por ambos:
Até recentemente, ninguém duvidava seriamente que as narrativas da Bíblia sobre Davi e Salomão eram basicamente históricas. Embora os vestígios arqueológicos do governo de Davi foram - e são - indescritíveis, o aparecimento súbito de arquitectura monumental, muralhas e portões de cidade em níveis datados do século 10 AEC nas cidades israelitas de Gezer, Hazor e Megido - precisamente aquelas cidades supostamente fortificadas por Salomão de acordo com a I Reis 9.15 - pareciam provas irrefutáveis de que a arqueologia, história e os relatos bíblicos estavam totalmente sincronizadas neste ponto. Mas é tão fácil assim? Recentes análises estratigráficas dos portões "salomônicos" em Megido e Hazor e datações de carbono-14 de estratos relevantes sugerem que estes imponentes monumentos pode não ter nada a ver com Salomão, em absoluto. [...] Então, onde está a fronteira entre o passado e presente bíblico, entre a história bíblica e mito? A arqueologia - o estudo de fragmentos de sociedades passadas - inevitavelmente leva-nos para o reino da interpretação, e quando se trata da conquista de Canaã e do Reino de Davi e Salomão, os fatos arqueológicos não são tão inequívocos como pareciam antes. É hora de parar de chamar nomes, como também parar a amarga polêmica entre "maximalistas" e "minimalistas". Nossa esperança é que "The Bible Unearthed" proporcionará uma oportunidade para debater e discutir inteligentemente novos rumos na arqueologia das terras da Bíblia - e ver teorias arqueológicas do passado sobre a história bíblica como fundações valiosas e os pontos de partida para futuras pesquisas, e não de linhas confrontadoreas desenhadas na areia.²Outra questão de constante debate na arqueologia é a abordagem do evento êxodo bíblico. Está disponível um artigo interessante a este respeito na Gaîa, Revista Eletrônica de História Antiga produzida pelo Laboratório de História Antiga (LHIA) da UFRJ, coordenado pelo Prof. André Leonardo Chevitarese. Na quinta edição desta revista (2008/1) encontramos "O Êxodo dos Hebreus segundo historiadores e arqueólogos: ênfase na perspectiva minimalista a partir da obra de Finkelstein e Silberman". No artigo, Josué Berlesi trata da análise "minimalista" da história de Israel, tendo como objeto de estudo o evento do êxodo bíblico, na perspectiva de estudiosos minimalistas, especialmente Israel Finkelstein e Neil Ascher Silberman.
¹ Para uma maior explanação sobre o assunto: DA SILVA, Airton José. A História de Israel na pesquisa atual. Estudos Bíblicos, Petrópolis, Vozes, nº 71, p. 62-74, 2001.
² Until recently no one seriously doubted that the Bible’s stories about David and Solomon were basically historical. Although the archaeological remains of David’s rule were—and are—elusive, the sudden appearance of monumental architecture, city walls, and city gates in levels dated to the 10th-century BCE at the Israelite cities of Gezer, Hazor, and Megiddo—precisely those cities reportedly fortified by Solomon according to First Kings 9:15—seemed irrefutable evidence that archaeology, history, and the biblical accounts were at this point fully synchronized. But it is really that easy? Recent stratigraphic analysis of the “Solomonic” gates at Megiddo and Hazor and carbon-14 dates from relevant strata suggest that these imposing monuments may have nothing to do with Solomon at all. [...] So where is the boundary between biblical past and present, between biblical history and myth? Archaeology—the study of fragments of past societies—inevitably takes us into the realm of interpretation, and when it comes to the conquest of Canaan and the Kingdom of David and Solomon, the archaeological facts are not as unequivocal as they once seemed. It is time to stop the name calling and bitter polemics between “maximalists” and “minimalists.” It is our hope that The Bible Unearthed will provide an opportunity to debate and intelligently discuss new directions in the archaeology of the lands of the Bible—and to see past archaeological theories about biblical history as valuable foundations and the starting points for future research, not confrontational lines drawn in the sand.
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