Tem um ditado que diz que “uma palavra vale uma moeda de ouro, mas o silêncio vale duas”. Há momentos que o silêncio vale mais que mil palavras. Mas a sabedoria bíblica ensina que há “tempo de calar e tempo de falar” (Eclesiastes 3.7). Saber quando calar e quando falar é uma arte das mais difíceis do mundo. Falamos coisas impróprias quando deveríamos ficar quieto. Silenciamos quando não deveríamos ser omissos. Somos ligeiros em abrir a boca e diminuir a reputação das pessoas. Somos vagarosos demais em levantar a voz quando vemos alguém ser injustiçado e caluniado.
Amós, um profeta do Antigo Testamento, vivenciou esse dilema no seu tempo. O reino de Israel havia expandido seu território e atingido o auge da prosperidade econômica. Apesar de toda grandeza exterior, Amós via que Israel era podre por dentro. A prosperidade escondia a injustiça. Neste contexto, o profeta observa duas coisas sobre o silêncio. Primeiro, que num tempo mau como aquele, o que for prudente guardará silêncio (Amós 5.13). E, segundo, que as pessoas odeiam os que na porta defendem a justiça e detestam as testemunhas que falam a verdade” (Amós 5.10). A porta da cidade eram uma espécie de tribunal de pequenas causas, onde os pobres e desprivilegiados iam em busca de justiça, mas não a encontravam. Então Amós levanta a voz: “Odeiem o mal e amem o bem, e restabeleçam na porta a justiça!” (Amós 5.15)
Em tempos maus o silêncio pode até ser “prudente”, mas é uma forma egoísta de autopreservação e segurança pessoal. Precisamos nos arrepender quando nos comportamos assim. Deus ensina, através de seu profeta que não se pode permanecer em silêncio diante do mal, mesmo que se enfrente o ódio por causa disso. Diante da injustiça o silêncio deve ser quebrado, senão ele será um silêncio mortal. O silêncio é o melhor amigo do mal quando ignora o clamor dos fracos.
Felizmente, Deus rompeu o silêncio através de seus profetas no passado. Amós foi apenas um deles. Quando olhamos para a presente realidade, percebemos que a voz de Deus ainda fala à nossa geração através de seus profetas do passado, nos chamando ao arrependimento e lamentando nosso silêncio diante do mal. Há mais de dois mil anos atrás, quando todos pensavam que as profecias haviam silenciado, ouviu-se a “voz do que clama no deserto” (Mateus 3.3). Era João Batista, o precursor, preparando o caminho daquele que seria a encarnação da Palavra.
Deus rompe o silêncio novamente através de seu Filho. “A Palavra fez-se homem e veio habitar no meio de nós... cheio de graça e de verdade” (João 1.14). Jesus é a verdade que desafia a pretensiosa auto-justiça dos fariseus e líderes religiosos de sua época. Ele é a verdade que traz justiça aos oprimidos e esperança aos sofredores. Ele não foi um espectador silencioso, tampouco complacente com aqueles que fizessem tropeçar um de seus pequeninos (Mateus 18.6). No entanto, quando ele mesmo era injustamente acusado, “como um cordeiro que é levado ao matadouro ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador, a sua boca não se abriu para protestar” (Isaías 53.7).
Mas o seu silêncio momentâneo foi quebrado por um brado em favor de seus pequeninos: “Está consumado!” (João 19.30). Estas palavras redimem a todos nós que silenciamos a verdade para nossa própria segurança e autopreservação. A mensagem de Jesus ainda hoje continua a quebrar o silêncio diante do mal. Ouçamos a voz que rompe aquele silêncio que pensamos ser a paz (Lucas 12.51). Ele fala para nós que a sua paz é a nossa paz: “Deixo com vocês a paz. É a minha paz que eu lhes dou; não lhes dou a paz como o mundo a dá” (João 14.27). O silêncio poderia ser mortal para nós, mas Cristo quebrou o silêncio.
Publicado no Jornal O Guarani, nº 2514 – 21 a 27/07/2017 (Itararé, SP)
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