O Ano Novo se tornou um momento mágico e especial, diferente de outros momentos de passagem na vida individual e familiar, como aniversário, batismo, casamento, etc., pois é coletivo, globalizado e conduzido pelos meios de comunicação. Não tem como ficar de fora.
O Réveillon é ocasião para as resoluções de Ano Novo, quando muitas pessoas já antecipam também os resultados. Junto com a promessa de entrar na academia, muitos já se veem entrando naquele número que não vestia mais, junto com a decisão de batalhar por uma promoção, outros já pressentem a espuma macia da cadeira de chefe no trabalho, e por aí vai.
O filósofo polonês Zygmunt Bauman (que morreu esta semana aos 91 anos) escreveu que “Ano-Novo é a festa anual da ressurreição das esperanças. Dançamos, cantamos e bebemos para saudar a chegada da esperança renascida, ainda firme e intransigente; um novo tipo de esperança – é o que esperamos – imune ao descrédito e ao menosprezo”. Somos tomados pela esperança num mundo melhor coletivamente, mas que também seja melhor para cada um de nós individualmente. Por isso mesmo, queremos lembrar o ano que passou apenas como uma página virada, numa esperança de que o Novo Ano seja aquilo que o Velho não conseguiu ser. É assim que propomos a nós mesmos metas, mudanças de postura e comportamento sempre para melhor. O Ano Velho sai de cenário por representar aquilo que não foi bom e que não conseguimos realizar. Então estouramos o espumante para celebrar e inaugurar este futuro repleto de coisas boas.
No entanto, o que temos é apenas a esperança de que nossa resolução de Ano Novo se concretize no futuro. E isso nos apequena diante de expectativas tão grandes que alimentamos, pois sabemos, lá no fundo, que seremos os responsáveis por manter e cumprir aquilo que propomos a nós mesmos. Muitas vezes os resultados de nossas proposições escapam ao nosso controle. Por isso, se queremos ter mesmo uma esperança firme contra toda desesperança, precisamos voltar os olhos para os anos passados. O teólogo alemão Martinho Lutero dizia que “jamais sentimos a mão de Deus estendida sobre nós com maior poder do que ao lembrarmos os anos passados”. Não se trata de viver preso ao passado. Ali jaz experiências dolorosas que não queremos revisitar, mas também pode “trazer à memória aquilo que me dá esperança” (Lamentações 3.21).
Ano Velho e Ano Novo – passado e futuro – se fundem para dar forma a uma nova realidade, a respeito da qual pouco temos a dizer, senão cativar com os sentimentos abstratos da fé e da esperança. A fé que vem desse passado que nos dá esperança num futuro que trará, inevitavelmente, amor ou amargor. Vai depender daquilo que cultivamos. A síntese do capítulo 13 da 1ª carta de São Paulo aos Coríntios nos dão as melhores sementes para cultivar um bom ano: “agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”.
Fé e esperança nos movem a desejar um novo e feliz ano de muito amor!
Publicado no Jornal O Guarani, nº 2491 – 30/12/2016 a 05/01/2017 (Itararé, SP)
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