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"Jesus anda sobre o mar" por Anne de Vries

Ilustração de Christina Balit (Rock, Lois. Bíblia para crianças: histórias sempre vivas. Sinodal, 2002. p. 11)

O Evangelho proposto para este 10º Domingo após Pentecostes é Mateus 14.22-33. Uma reinterpretação maravilhosa dessa narrativa, tanto para crianças e adultos, encontramos em O Grande Livro das Narrações Bíblicas, Novo Testamento (pág. 96-98), de autoria de Anne de Vries, reeditado em 2016 pelo Sínodo das Igrejas Evangélicas Reformadas no Brasil.

Anne de Vries
Anne de Vries (1904 – 1964) foi um professor e autor holandês muito popular em meados dos anos 1900. Isso mesmo, Anne é um homem. Anne costumava ser um nome epiceno,usado para ambos os sexos. De Vries escreveu com muita habilidade e reverência centenas de histórias bíblicas reunidas no Grande Livro das Narrações Bíblicas, um dos seus maiores projetos. Enquanto a maioria dos autores simplifica e trivializa a história bíblica para crianças, De Vries expande a narrativa bíblica, expressando emoções implícitas na narrativa, acrescentando detalhes e diálogos. De Vries não ignorou episódios complicados e delicados, mas recontou-os de uma maneira adequada para crianças. Como um professor experiente, De Vries procurou dar explicações que qualquer criança poderia pedir. 

Eis o texto:

JESUS ANDA SOBRE O MAR

O sol tinha se posto. A noite caíra. As trevas estendiam-se sobre a terra. Na encosta escura de uma montanha do lado oriental do mar da Galileia, estava um vulto, imóvel. Um homem solitário, entre as rochas, ajoelhado. Era Jesus. Estava orando. As estrelas brilhavam sobre Ele e se refletiam no mar escuro. As horas passavam. Ele, porém, parecia não reparar no tempo.

E, de repente, começou um vendaval sobre a terra. O vento aumentava cada vez mais, soprando das montanhas para o mar da Galileia. Empurrava as ondas, até elas ficarem como montanhas de água com cumes de espuma. Era um temporal. Mas Jesus, lá na encosta da montanha, parecia não notar. Quando ele orava, estava muito perto do Pai; então era como se Sua alma tivesse recolhido ao céu.

Mas, finalmente Ele se levantou, fortalecido e reanimado. Andava na tempestade que surgia, em densas trevas, e via tudo ao redor. Nada se escondia de Seus olhos. Via o mar e as ondas espumantes, e lá longe, sobre as águas agitadas, no meio do mar, um barquinho. Dentro do barquinho, doze homens se esforçavam a remar contra o vento, lutando para avançar. A escuridão os cobria. Quase não viam um ao outro. Mas para Jesus a noite era clara como o dia, e Ele via até o medo nos olhos deles.

Desceu da montanha pelo caminho, no escuro, e chegou até à praia. Seus olhos fitavam o barquinho e Seu coração acompanhava os discípulos. Nada O impediria de socorrê-los. Seus pés andaram da praia diretamente para as ondas que ferviam. E elas curvaram-se docilmente a Jesus e se acalmaram, levando-O sobre elas. E, andando sobre as ondas, atravessando a tempestade e a noite, ia Jesus na direção do barco.

QUANDO os discípulos, por ordem do Mestre, embarcaram na véspera, zarpando contra vontade, tinham se conservado perto da margem, navegando para lá e para cá. Mantinham os olhos fixos na praia, pensando que Jesus ainda iria se juntar a eles. Mas a escuridão tinha chegado, e Ele ainda não viera. O desânimo dos discípulos cresceu mais ainda. Estavam tão bem intencionados com o Mestre e consigo mesmos, querendo preparar um futuro maravilhoso, cheio de glória e fama... Mas Jesus não quis. Será que não tinha confiança neles? E agora, será que até tinha se esquecido deles?

Era uma noite terrível, muito escura. E, de repente, o vento se levantou, um forte vento contrário que fez as ondas quebrarem com violência contra a proa do barco. Mas eles tinham que atravessar o mar até a outra margem, pois Jesus ordenara que fizessem assim e, mesmo lutando muito contra o vento e as ondas, quase não avançavam. Depois da metade da noite, ainda remando e lutando, só tinham navegado cinco ou seis quilômetros, no meio do mar. E já era madrugada, lá pelas três horas, no início da quarta vigília. Será que nunca alcançariam o outro lado?

E eles pensaram naquela outra noite, quando também houvera um forte temporal. Então, sim, tinham se preocupado sem motivo. Porque naquela ocasião Jesus estava com eles, dormindo tranquilamente na popa e, quando foi acordado, tinha acalmado com uma única palavra a tormenta e o mar.
Mas agora Ele não estava lá. Parecia que os tinha abandonado, e eles estavam à mercê da violência da tempestade que se precipitava sobre eles. De repente, olhando para o mar, viram um vulto branco que vinha se aproximando do barco sobre as águas escuras. O que seria aquilo? Parecia o vulto de um homem que caminhava sobre as ondas.

Eles ficaram tão amedrontados que chegaram a gritar de medo. “Um fantasma! E um fantasma!”, exclamaram. Mas uma voz meiga lhes disse: “Animem-se! Sou Eu. Não tenham medo!” E então essa voz, tão boa e tão familiar, imediatamente lhes tirou os temores. “O Mestre!”, balbuciaram. “Lá vem o Mestre!” Deixaram de pensar no vento e nas ondas. Jesus estava junto deles. Ele não os esquecera e vinha em direção deles sobre as águas.

Quem, a não ser Ele, podia fazer uma coisa dessas? Simão Pedro foi o primeiro a recuperar a fala depois da grande surpresa. E uma imensa alegria, um amor ardente ao Mestre, que não os abandonara, encheu o seu coração. Queria estar mais perto dEle, estava com tantas saudades! Pedro não suportou mais a espera, tinha que ir se encontrar com o Mestre.

“Mestre!”, gritou, “se é o Senhor mesmo, mande-me ir até aí sobre as águas.” Jesus disse: “Venha!”. Só esta palavra. Mas foi o suficiente para Pedro e para a sua fé que, de repente, tornou-se grande e vigorosa. Sem medo, sem pensar muito, ele saltou do barco, os olhos fixos em Jesus. E firme, sem hesitar, pisou as águas. Elas o carregavam! Jesus era senhor das ondas, e Pedro, por sua fé, era também.

Só que, de repente, lhe ocorreu a ideia de como era estranho aquilo. Antes não importava, ele só tinha pensado em Jesus. Agora, porém, percebeu o piso escuro e flutuante que tinha debaixo dos pés. Será que iria suportá-lo? Ouvia o vento uivando! Olhava as ondas agitadas! Montanhas de ondas vinham em sua direção, fazendo-o esquecer o Mestre. Agora só via a si mesmo e a água, só via o perigo!
E então, de repente, tão depressa como há pouco sua fé crescera, nasceu nele o medo e começou a afundar. "Senhor, salve-me!", gritou Pedro, estendendo as mãos para Jesus. E sentiu a mão do Mestre, que o segurava, puxando-o para cima, e O ouviu perguntar: "Por que você duvidou, homem de fé pequena?" E de mãos dadas foram até o barco e subiram nele. E o vento se acalmou.

Os discípulos, ao verem mais este milagre, deitaram-se no chão do barco, aos pés de Jesus, e O adoraram. Então disseram: "Ele é, com certeza, o Filho de Deus!" E, enquanto os primeiros raios da madrugada iam colorindo os picos da serra, chegaram sãos e salvos à margem do mar.



JEZUS WANDELT OP DE ZEE

DE zon was ondergegaan. De nacht was gekomen. En de duisternis had zich uitgebreid over de aarde.

Op de donkere helling van een berg aan de Oostzijde van het meer van Galilea lag een eenzame Man geknield tus- sen de rotsen. Het was Jezus. Hij bad. De sterren schitterden boven Hem en spiegelden zich in het donkere meer. De i uren vervlogen, maar Hij scheen het niet te merken.

Toen stak de wind op en rumoerde over de bergen. Hij nam toe in kracht en stortte zich van boven af op het meer. Hij zweepte de golven op tot bergen van water, met toppen van schuim. Het werd noodweer. Maar Hij, daar op de berghelling, scheen het niet te merken.

Als Jezus bad, was hij heel dicht bij zijn Vader; dan scheen het, alsof zijn ziel in de hemel was opgenomen.

Maar eindelijk stond Hij op, versterkt en bemoedigd. Hij stond in een loeiende storm, in een dichte duisternis en zag om zich heen. Voor zijn ogen was niets verborgen. Hij zag de zee en de schuimende golven en ver weg, midden op het meer, een scheepje. In dat scheepje waren twaalf mannen, die zich inspanden om tegen de wind in te roeien, die zich aftobden om voort te komen. De duisternis bedekte hen. Ze konden elkander nauwelijks zien. Maar voor Hem was de nacht licht als de dag en Hij zag zelfs de angst in hun ogen.

Hij daalde het donkere bergpad af en kwam aan het strand. Zijn ogen waren op het scheepje gericht. Zijn hart was bij zijn discipelen. Wie zou het verhin- deren, als Hij hun te hulp wilde komen? Zijn voeten droegen Hem het strand op, recht op de bruisende golven aan. Die bogen gehoorzaam de schuimende koppen voor hun Heer en Meester; ze wierpen zich voor Hem neer en droegen Hem. Over die golven, door de duistere stormnacht, wandelde Jezus recht op het schip aan.





TOEN de discipelen de vorige avond op het bevel van hun Meester in het schip waren gegaan en met tegenzin van wal waren gestoken, waren zij dicht bij de kust heen en weer blijven varen, want zij dachten, dat Jezus zich nog bij hen zou voegen. Maar toen het donker was geworden, was Hij nog niet gekomen.

Hun mismoedigheid werd er nog groter door. Zij hadden het zo goed met hun Meester voor, ze hadden Hem en zichzelf een schitterende toekomst willen bereiden en voor eer en roem willen zorgen. Maar Hij had niet gewild. Vertrouwde Hij hen niet? ... En had Hij hen nu ook nog vergeten ?...

Duister en ruw was de avond.

De wind stak plotseling op, een sterke tegenwind, die de golven met kracht uiteen deed spatten tegen de boeg. Maar zij moesten naar de overzijde, want de Meester had het bevolen, en zij spanden al hun krachten in, maar kwamen slecht vooruit. Na meer dan een halve nacht van roeien en zwoegen, waren zij nog maar vijf of zes kilometer verder gekomen. Om een uur of drie in de nacht, bij het begin van de vierde nachtwake, waren zij nog midden op zee. Zouden ze wel ooit hun doel bereiken? ... Ze dachten aan die vorige nacht, toen het óók zo erg was met de storm. Toen hadden ze zich bang gemaakt voor niets. Want toen was Jezus bij hen, Hij lag rustig te slapen in het achterschip en toen ze Hem wekten, had Hij met een enkel machtig woord de wind en de zee gekalmeerd. Maar nu was zijn plaats leeg. Nu had Hij

hen alleen gelaten en waren ze overgeleverd aan het geweld van de storm, aan de boze duistere machten, die tegen hen woedden .. .

En zie, wat was dat? Een witte gedaante, die over het donkere water het schip voorbij zweefde? Een mannengestalte, die wandelde op de golven?

Ze schrokken vreselijk en schreeuwden het uit.

„Een spook! ... Het is een spook!"

Maar een vriendelijke stem riep: „Houdt moed, Ik ben het, weest niet bevreesd!"

Die goede bekende stem stilde in een ogenblik hun angst.

„De Meester!" stamelden ze. „De Meester is daar!" ... Ze dachten aan geen wind en geen golven meer. De Meester was bij hen! Had hij hen toch niet vergeten? Kwam Hij nu dwars over het water naar hen toe? Wie was Hij dan, dat Hem dat mogelijk was ?...

Simon Petrus was de eerste, die spreken kon na die grote verbazing. Een juichende vreugde steeg in hem op, een vurige liefde voor de Meester, die hen niet alleen gelaten had. Hij wilde bij Hem zijn, hij had zo naar Hem verlangd! Petrus kon niet langer wachten, hij moest naar zijn Meester toe.
„Here," riep hij, „als Gij het zijt, beveel mij dan tot U te komen over het water ..."

Jezus zei: „Kom!"

Eén woord was het slechts. Maar voor Petrus' geloof, dat plotseling groot en sterk in hem opstond, was het genoeg. Zonder vrees, zonder nadenken, klom hij over boord, de schitterende ogen op Jezus gericht. Vast en zonder aarzelen zette hij zijn eerste stappen op het water. Het water droeg hem! Jezus was Heer over de golven. Petrus, door zijn geloof in Hem, was het ook.

Het drong ineens tot hem door, hoe wonderlijk dat eigenlijk was. Hij had er eerst niet aan gedacht, hij had alleen aan Jezus gedacht. Nu keek hij verbaasd omlaag naar die zwarte levende vloer onder zijn voeten. Droeg die hem werkelijk? .. . Hoor, hoe de wind waaide! Zie, hoe hij de golven opzweepte! Bergen van water rolden op Petrus aan. Petrus vergat er de Meester door. Hij zag nu alleen zichzelf en het water, hij zag alleen het gevaar.

En plotseling, even snel als straks zijn geloof, steeg nu de angst in hem op en ineens zonk hij weg in de diepte.

„Here, red mij!" schreeuwde Petrus en strekte zijn handen naar Jezus uit.

Toen voelde hij ook reeds de hand van de Meester, die hem aangreep en optrok en hij hoorde Hem vragen: „Kleingelovige, waarom zijt gij gaan twijfelen?"

Ze liepen hand aan hand naar het schip en klommen er in. De wind ging liggen. De zee werd vlak als een spiegel.

Toen de discipelen dit nieuwe wonder zagen, wierpen ze zich voor Jezus neer en stamelden: „Waarlijk, Gij zijt Gods Zoon!"

En terwijl de eerste glans van het morgenrood de toppen der bergen kleurde, meerden zij veilig hun schip aan de oever.


Anne de Vries. Groot vertelboek voor de bijbelse geschiedenis. II. Hiet Nieuwe Testament. J. H. Kok n.v. Kampen. 1954. p. 94-96.

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